A NATUREZA DE OBÀTÁLÁ
A NATUREZA DE OBÀTÁLÁ
A NATUREZA DE OBÀTÁLÁ
O grande rei é como a agbè, (galinhola) de cor índigo. É como o àlukò, (pássaro) de cor vermelho carmim. É como a lékeléke (garça boiadeira) com suas plumas brancas. É como o Odíderé, (papagaio cinzento africano). Não reclama de sua pele albina e sempre acorda bem.
O galo acorda com uma crista de fogo sobre a cabeça e não reclama da vida, ao contrário, acorda feliz e cantando.
A Galinha D'Angola acorda com um chifre sobre a cabeça e não reclama da vida. Assim é Obàtálá, o grande rei, a divindade que cumprimentamos ao amanhecer, antes de falar com Olódùmarè, Deus. Ele é o nosso Criador. Ele sempre acorda bem.
A tartaruga acorda com a sua carapaça.
O tatu acorda com a sua carapaça.
O caracol acorda com a sua carapaça.
O porco-espinho acorda com suas armas perfurantes.
Assim é Obàtálá, ele acorda envolto em pano branco.
O peixe acorda dentro do rio.
A cobra acorda com o seu veneno.
O babuíno acorda bem com as suas garras.
O macaco-prego acorda bem entre as árvores.
Assim é Obàtálá, o bom construtor de cabeças; ele acorda bem.
O mar é o rei de todas as águas.
A lagoa é a rainha de todos os rios.
Assim é Obàtálá; o rei entre Òrísà(s).
Ele é proprietário de uma casa próxima ao Céu.
É o dono da escritura da Terra.
O solo é dele.
A escuridão do Céu e luz do Mundo lhe pertencem.
Ele é o Senhor que comanda o Céu e a Terra.
Ele libera a água da terra na medida necessária usando o seu lençol branco – ar da atmosfera da Terra.
É a divindade que dorme sobre esse pano branco do espaço sem amarotá-lo.
O seu pano branco é límpido e não têm remendos.
Ele pode pendurar-se nesse pano branco do Céu.
Ele pode pular desse telhado e não machucar o braço.
Obàtálá, por sua natureza pura, acorda bem.
Ele é o grande rei de Ifon (cidade, Povo) e sempre acorda bem. Mas, exige que todos participem dos acontecimentos do Mundo.
Obàtálá é o homem poderoso de Ìrànjë-ilé.
É o homem poderoso de Ìrànjë-oko.
Obàtálá é um homem alto e forte.
Tranquilamente, ele pode sentar-se na praça do mercado.
Mas é como o leopardo; mata um animal sem piedade.
Ele amaldiçoou a cabra antes de decapitá-la.
É preciso ser evocado todas as manhãs para que entenda as nossas súplicas.
(Eu o evoco todas as manhãs).
Busco o seu amparo ao meio-dia e a meia-noite.
O inimigo não tem poder para me atingir.
Obàtálá, logo pela manhã, vai à minha frente.
Ele é branco como o algodão.
Se o inimigo vem, não poderá me atingir.
Se correr atrás de mim, não poderá me alcançar.
Obàtálá irá atrás do meu inimigo como uma torrente de chuva.
Ele é como o caranguejo, têm olhos na parte de trás.
Ele é tão poderoso que pode manter a água dentro de um pote quebrado.
Com a proteção de Obàtálá eu acordo sempre bem.
Obàtálá sacrificou um bode preto para livrar o filho do mal.
Ele arrancou o coração de uma cabra para salvar a vida dos seres humanos.
Quando me vi em apuros, e sacrifiquei caracóis, ele salvou a minha vida.
Obàtálá não mede esforços para abençoar a humanidade – seus filhos.
Ele é coxo.
Ele é corcunda.
Mas, com frequência, vai ao Céu a pé.
Meu pai é aquele que acorda bem.
Mas, como o leopardo, pode ferir terrivelmente a cabeça de uma criança.
Pode marcar numa pessoa com pintas pretas e brancas – vitiligo, mas curá-la com a gordura do seu escravo de estimação – o sapo.
Obàtálá pode perfurar as vísceras de uma pessoa sem deixar uma cicatriz na sua barriga.
Do mesmo modo, pode deixar uma cicatriz na pele de alguém sem tocar no sangue.
Com um sino de bolso ele causa insônia.
Ele pode gerar gastos excessivos para o mentiroso até levá-lo à miséria.
Ele é o dono do tambor de guerra.
Meu pai, assim como o Senhor não fica doente, por favor, não permita que a doença bata a minha porta, de repente.
Não permita que o seu devoto viva na miséria.
Quem cultua Obàtálá desconhece a pobreza, a fome, a necessidade…
Obàtálá, meu pai, por favor, não faça guerra contra mim.
Se o meu destino não é ruim, por favar, transforme-o em bom.
Que me venha: boa sorte, longevidade e fortuna.
Meu pai, a vossa casa tem dezesseis salões e foi construída com miçangas brancas próxima do Céu. Ninguém a alcançará.
Pai, é a morte que molda a cabeça do bebê.
Pai, importe-se com as suas crianças deixadas neste Mundo.
Não deixe que as suas cabeças se afundem.
Por favor, cuide de minha cabeça.
Um rei nunca dorme no chão.
O leopardo nunca será amigo da galinha.
O agricultor é visto com uma enxada nas mãos.
Obàtálá, meu pai, é o grande fazendeiro de Ilú-Oko – Fazenda das Estrelas, a Via Láctea.
Ajude-me a colher os frutos da minha plantação na vida.
Somente o meu pai sabe a quem dá a melhor laranja de sua fazenda.
Pai, um pano pequeno é suficiente para agasalhar o filho de um anão.
O mentiroso não pode beber vinho de palma.
O corcunda nunca fica ereto. Ele anda mostrando a língua.
O coxo fica, na velhice, com o fígado grande.
O cego depende da vara de caminhante.
O ateu não deve apresentar-se diante do Ojúbo, Altar, de Obàtálá; cantar, dançar e em seguida desaparecer.
Obàtálá, por favor, não coloque essas cobras dentro de minha casa.
Pai, eu peguei o sabão e a bucha e tomei banho; comi inhame pilado; pintei a minha cabeça de branco; e esfreguei ìyerósùn, pó de madeira extraído pelos cupins, no meu corpo diante do seu Ojúbo, Altar. Por favor, me reconheça. Lembre-se de mim, no dia em que levar seres humanos para o sacrifício.
Não quero encontrar um monte de terra – aquele que a morte usa para se exercitar. Quero, diante de vosso Ojúbo, Altar, pisar sobre a vossa pedra e não afundar. Ensine-me a beber egún-inú-igo – uma magia.
Ensine-me a beber na cabaça de Aje, a feiticeira, sem sentir medo.
Não permita que toquem a cabaça da feiticeira na frente de minha casa.
Pai, em vossa casa, ao final do dia, tem sopa saborosa.
Eu tenho azeite de dendê em casa, mas me alimentei de caracóis brancos, preparados com orì, manteiga vegetal.
Foi ao mercado e comprar sal, mas comi sem sal.
Tenho esteiras em casa, mas dormir sobre a vossa grama.
Obàtálá, meu pai, sóis aquele que confeccionou um tapete para forrar o Céu e, da mesma maneira que o fez, me ensinou a transar uma esteira para forrar o chão.
Ele é o único Òrísà que possui grama para acomodar os filhos.
Ele construiu o seu Ojúbo, Altar, perto do Ojúbo de Ògún.
Ele tem um quintal grande próximo a casa de Ògún.
É de Obàtálá que a humanidade descende.
Com Obàtálá aprendemos a caminhar.
Aquele que se curva para Obàtálá se torna uma pedra de moinho porque Obàtálá é imortal.
Aquele que vem no caminho é Obàtálá. Ele é o meu guia e a minha boa sorte.
Ele é albino e não enxerga bem.
Ele é corcunda, mas carrega o filho nas costas – ele carrega o filho de ponta-cabeça.
Obàtálá é o rei.
O velho que o respeita viverá mais tempo…
Meu pai, por favor, cuide de mim, me dê vida-longa.
Que eu tome o caminho da retidão – um caminho igual ao das formigas.
Meu pai é aquele que cobre a cabeça e as mãos com metais; que come branco; que oferece pouca comida para a boca do bebê; que agita a voz da criança; que comanda com a palavra…
Pai, venha ao meu encontro.
Somente Obàtálá não se intimida diante de Èsù.
Meu pai, não me empurre para Èsù.
Obàtálá, por favor, não empurre Èsù contra mim.
Quem dança ao som do tambor da morte são aqueles não têm pernas e mãos – são os mortos.
Obàtálá é dono do tambor que foi confeccionado com a pele de um anão.
Meu pai é o dono da pele com coxo.
É proibido dançar ao som do tambor confeccionado com a pele do anão.
As pessoas da casa não dançam.
Os viajantes, ao longe, sequer, devem ouvi-lo.
Somente a morte, no Céu, dança ao som do seu tambor confeccionado com a pele do anão.
Obàtálá é o único que tem um tambor sem chave.
O osso do corcunda é usado para bater o seu tambor.
Não é mentiroso aquele que o chama de Oso, feiticeiro.
Ele usa o crânio humano para beber água com çfun – natrão, argila branca.
Ele fez a sua bengala com osso humano.
Obàtálá fez você acordar para a vida ou não?
Extraído do livro:
OBÀTÁLÁ
Rei do pano branco - de Orlando J. Santos